quarta-feira, 4 de maio de 2011

O que não falam do intercâmbio...


Tem tanto tempo que não venho escrever, que me sinto até inibida de expressar idéias. Jamais! Enfim, depois de ter retirado o passaporte, parti rumo à entrevista de emprego, a tão temida e desejada JOB FAIR! Antes da entrevista rola aquela expectativa e nervosismo básicos, mas eu estava bem tranqüila por mim, já por outro lado... bem nervosa pela minha irmã, que ia fazer a entrevista junto comigo e estava super sem confiança. O que aconteceu? Acho que a pior coisa que podia ter acontecido naquele momento e a melhor para nós duas no fim de tudo, o empregador ofereceu vaga pra uma mas não para a outra. Quando é com um amigo já é difícil tomar uma decisão dessas, agora imagina com um irmão que fez de tudo para você ir junto. Foi tenso! Sem muito tempo para pensar, eu acabei aceitando a oferta (morri de medo de ter duas pessoas desamparadas nos EUA e acreditei que pudesse ajudar minha irmã de certa forma). Houve aquele momento triste, decepcionante, na hora de assinar a job offer todos sorriram menos eu, e blá blá blá... percalços da vida.

Minha irmã conseguiu através do nosso consultor uma job offer também, mas teve que pagar por fora da agência, algo que ele disse ser certo, por um período curto, mas com promessa de um bom retorno. Gente, isso tinha cara de roubada, eu sei, mas só quem passa pelo medo de ficar sem nada nos EUA e tendo pago o que foi pago para a agência, pode dizer se não aceitaria tal oferta. É claro que minha irmã aceitou e partiu antes de mim para o Colorado. No início ligava pra casa dizendo que não estava trabalhando, foi um rolo danado, minha mãe teve que mandar dinheiro do Brasil pra ela se manter e pagar aluguel, ela mesma usou o cartão de crédito diversas  vezes para comprar comida e no final, o tal 'emprego' que arrumou aqui ainda até pagava bem, mas só durou 2 semanas, ela tinha mais 2 meses e meio pra ficar lá. Isso tudo aconteceu antes de eu embarcar para o meu destino final (Wintergreen - Virginia, US), imaginem só como eu também não saí do Brasil... super desconfiada! Resumirei a história da minha irmã mais à frente, primeiro vou contar o que eu tive de experiência.

Então chegou o dia da entrevista no consulado, foi super tranqüilo apesar do nervosismo inicial e medo de não conseguir, não houve nada demais, e digo novamente porque eu cansei de ler e não acreditava, NÃO HOUVE NADA DEMAIS MESMO! Só umas perguntinhas básicas e impressões digitais. Visto conseguido, partir para arrumar as malas certo? Errado! Gente, eu sou bichada, só posso, o meu visto veio com o sexo errado, e isso uma semana antes de viajar... desespero, é claro! Pensei até em não corrigir o sexo, afinal quem ia ter a cara-de-pau de me perguntar se eu era homem ou não? Graças a minha mãe ter um amigo que sabe sobre vistos, ele informou que tinha sim que alterar pois o passaporte tinha sexo: feminino e podia dar conflito, e disse também que era um processo rápido e que eu teria meu passaporte de volta antes da viagem. UFA! Menos um problema, comecei a arrumar A mala. O que levar? Primeira viagem, por favor né, a gente tem vontade de levar TUDO, mesmo ouvindo conselhos para não fazer isso... hoje eu posso dizer, NÃO FAÇAM ISSO! Eu levei edredon, toalha, sapato alto, roupa de verão... tudo o que não usei, e esqueci de levar luvas, cachecóis e gorros, resultado: Se não fosse por uma colega de trabalho (posterior amiga), me cedendo o que tinha extra, eu ia congelar de frio assim que saí do aeroporto. Retornando ao assunto mala, levem somente roupas para 1 semana de frio, as vezes nem isso, o que foi o meu caso. No segundo dia nós fomos ao Wall Mart e compramos muita coisa lá, gastei em torno de 300 dólares comprando roupas, comidas, etc etc. e AS ROUPAS duraram praticamente toda a temporada, comprei uma blusa aqui e acolá com o tempo, mas nada que fosse muito necessário. As roupas de frio de lá são mesmo muuuito mais baratas e apropriadas, do que as que você compra aqui! Essa parte, eu só posso me culpar por não ter dado ouvidos, pois todo mundo que já tinha feito intercâmbio batia na mesma tecla. Vale ressaltar também que, não tenham medo de colocar líquidos na mala... faz um estoque do seu xampú e condicionador preferidos e leva, mas já digo que lá tem muito produto de qualidade por um preço bom, só que eu uso Natura e lá não vende, a dica é espalhar esses líquidos pela mala e em hipótese alguma colocar na bagagem de mão.

Então, mala pronta, passaporte e visto na mão, hora de pegar o avião e decolar... mas antes uma pausa para o preenchimento do seu I-94 (um papelzinho que te darão dentro do avião e que a alfândega dos EUA irá carimbar, guarde com a alma esse documento!), é super simples de preencher, eu não tive problemas com isso, mas sempre surge aquele medinho de estar preenchendo errado, não tenha medo e se surgir dúvida, pergunte à aeromoça! Elas são solícitas, estão sempre sorrindo, nem sempre dispostas a ajudar, mas ajudam assim mesmo. Uma pequena observação: o tempo de espera para embarcar, o tempo de vôo e as conexões são momentos perfeitos para firmar contatos com os seus colegas de trabalho, e também possíveis companheiros de casa, aproveite e faça o máximo de contato possível!

Vale comentar que tem que ter bastante cuidado com as conexões para não perder o vôo. Não sei falar muito sobre outros aeroportos, mas o de Miami (MIA) e o JFK são gigantescos e bem confusos se você não se localizar bem, a solução: não deixe um vôo tão próximo do outro. É chato esperar em aeroportos, mas assim você garante que não vai perder o seu e aproveita pra trocar idéia com os futuros colegas de trabalho. No total, eu levei mais de 24 horas para chegar até o meu destino final, WINTERGREEN! Mas isso porque minha ponte era para Washington e de lá uma shuttle do próprio empregador ia buscar a gente. Acredito que para outros lugares leve até menos tempo.

Dentro do shuttle, a Mariana, nossa MÃE em WTG (Wintergreen), entregou documentos informando telefones locais, apartamentos que ficaríamos, quem moraria com a gente, regras, cronogramas, etc etc. e o importante, alguns documentos para assinar-mos, muita gente reclamou de falta de tempo para ler todos aqueles papéis e de cansaço (realmente, 24 HORAS de viagem), mas todo mundo assinou, até porque se não concordasse àquela altura faria o quê? Fica aí mais uma dica, peça ao empregador para enviar uma cópia de todos os documentos que terão de assinar, enquanto ainda estiverem no Brasil, senão vocês assinarão que nem nós, qualquer coisa sem ler, cansado e com expectativas de ver logo o local de trabalho.

Cheguei em WTG, FINALMENTE!!! Sim, mas tivemos que esperar dentro do shuttle por mais alguns minutos, pois o grupo que chegou antes da gente havia acionado o alarme de incêndio (quem for para WTG lembre-se desse detalhe: fumaça aciona alarme de incêndio e ele faz um barulho muito alto, irritante e só acaba quando os bombeiros chegam para desligá-lo)! Mesmo sabendo disso, se prepare para ouvir o alarme tocar muito na primeira semana e depois com cada vez menos freqüência. Finalmente entramos em casa, ufa, guardar as coisas cansado... que nada! No par ou ímpar eu consegui pegar a roommate mais compatível comigo, ainda bem! Esse negócio de dividir quarto pode causar muito problema, então volto a dizer, tente conhecer as pessoas bem antes para evitar situações desagradáveis. O segundo dia foi para compras como falei anteriormente, se você tiver auto-controle, irá gastar bem menos que eu, mas... eu não tive, gastei mesmo, que nem doida, comprei muita coisa, casacos, blusas, toucas, cachecóis, luvas, comida pra 1 mês, câmera fotográfica e isso tudo no Wall Mart, ele é tentador, mas resista, você ainda terá alguns meses pela frente e muito lugar melhor pra comprar essas coisas. No finalzinho do dia, rolou aquela social em casa para conhecer melhor e no nosso caso, já teve festinha pra todo mundo em um dos apartamentos,(mais tarde eu falo sobre festas), importante saber sobre os housings de WTG: onde a maioria dos intercambistas ficaram foi no local chamado COMMONS, ao meu ver lembra externamente aqueles móteis americanos que vemos em filmes, mas o interior era diferente. Tem 3 andares, com aproximadamente 6 apartamentos em cada andar, e dentro do apartamento tem 3 quartos, para 2 pessoas cada, 2 banheiros, sala/cozinha americana e um pequeno hall de entrada, cada quarto tinha 2 camas, 2 closets e duas mesas de cabeceira. O apartamento era totalmente equipado, pelo menos, não lembro de ter sentido falta de nada lá, mas isso foi em WTG, minha irmã disse que onde ela morou em Aspen tiveram que comprar panelas e mais algumas coisinhas...

Os ROOMMATES: gente, o que dizer das pessoas que moraram comigo? Aleatórias e, no geral, divertidas. Honestamente, como para tudo na vida, você tem que saber ceder e tem que ajudar, se fizerem isso, fica tudo bem. Eu não conhecia ninguém que morou comigo, mas 3 meninas já se conheciam há muito tempo, e os 2 meninos, (tadinhos... aguentaram bem as tpms, especialmente o JEFF), super tranquilos. Tinham dias e dias, mas assim é em todo lugar, tinha dia que rolava umas broncas e reclamações daqui e dali, tinha dia de ficar até tarde na sala rindo e falando besteiras, tinha dia de ser acordada as 5 da manhã com o alarme de incêndio por causa de um hamburger no forno, mas como disse, no geral foi divertidíssimo. Sinto falta desses dias. 

O trabalho de LIFT ATTENDANT:  Aí está o ponto crucial deste post, o que não te dizem de verdade sobre ser lift. O trabalho é bem diversificado, mas no geral se resume a colocar e tirar neve (o tempo inteiro), apertar botões para parar as cadeiras, quebrar gelo das rampas (maluco, isso cansa), montar linhas com as famosas e pesadas 'hoops' (quem já foi lift sabe o que é), as vezes segurar cadeiras, checar tickets, ajudar cadeirantes, oferecer informação sobre o resort, chamar ajuda se tiver problemas, etc etc. Alguns locais demandam funções diferentes, como no Ridgleys Fun Park e no Plunge, carregar bóias e colocar, retirar e virar as 'mets' (acredite, isso é muito puxado), alguns lugares só podem trabalhar homens, apesar de eu ter trabalhado, é o caso do 'Highlands', pois lá não tem banheiro próximo. Outra coisa importante de se dizer, o horário de trabalho, eu não tinha horário de almoço, aproveitava o momento que tivesse menos cheio para comer algo, e era muito comum nos fins de semana trabalhar 12 horas na sexta, 15 no sábado e 14 no domingo, por exemplo, mas aí eu costumava ganhar 3 day offs seguidos. O que eu quis dizer com isso? Só demonstrando que o horário não é certo que nem no Brasil, você pode chegar pra trabalhar e ter que ficar mais tempo, você pode ser chamado pra trabalhar mais cedo, você pode trocar seu horário de trabalho com um colega, o negócio é conversar SEMPRE, e pode acontecer também de você trabalhar menos que 40 horas semanais. Onde vai trabalhar também não é fixo, no último mês, eu acabei trabalhando sempre nos mesmos lugares, mas até então eu trabalhava em qualquer lugar, cada semana tinha um novo 'schedule'. A maioria dos intercambistas serão lifts. Acontece também problemas de trabalho, como um colega não querer trabalhar e ficar mais coisas para você e os outros colegas fazerem, mas aí tem que ter o jogo de cintura, simpatia e irreverência pra fazer a coisa funcionar, se nem assim der jeito, sempre tem o 'manager' lá para apresentar a reclamação. Os 'managers' em geral são pessoas agradáveis e divertidas, são praticamente os 'bosses' as pessoas a que irá reportar problemas, queixas, pedir extras, etc etc. tente se enturmar com eles. Tem mais uns pequenos detalhes sobre ser lift que eu não mencionei, é muita coisa pra falar, mas o essencial está aí... Ah sim! Existe uma prova no meio da temporada que EU não considero justa, mas informarei assim mesmo, eles entregarão um material durante o treinamento para que leia, e após + ou - 1 mês de trabalho, será aplicada uma prova para aumentar 50 cents no salário por hora, não se engane, não é todo mundo que ganha, eu não ganhei.

Second Job: Todo mundo pode ir lá no RH pegar um formulário e aplicar para um second job, para os lifts é mais complicado porque possuem horários incertos e porque é mais fácil de pedir por hora extra (ressaltando que nem sempre consegue). Eu não cheguei a preencher este formulário, mas a Mariana envia e-mails informando que precisam de funcionários para trabalhar como dish washer por exemplo, é a hora de responder para ganhar um extra, mas tem que prestar atenção no e-mail, ela costuma mandar no dia anterior. Foi assim que fui parar nos campos de golfe para catar galhos, mas foi divertido porque eu brinquei muito de andar de carrinho. Não é impossível, tem que correr atrás, perguntar aqui e ali e se aplicar para o second.

Diversão: Já falei que o resort é isolado? Não? Pois então, é isso mesmo, sem carro, só é capaz de sair dele com as shuttles pro Wall Mart (compras) ou pra Charllotesville (mais compras), tem dias e horários determinados, geralmente nunca suficiente, e tem que pagar por isso. Tirando isso, tem como ir ao spa, jogar tênis, esquiar ou praticar snow, jogar joquinhos, andar de tobogã na neve, fazer tirolesa, pegar uma piscina interna, sauna, academia ou fazer social no restaurante, o The Edge. Funcionários têm desconto em comida e em algumas lojas de roupas (não acho que compensa), e não paga pra alugar material de esqui e de snow... o que é ótimo, aproveite!

Festas: Outro problema grande que tivemos. Quase que 99% das festas são nos Commons, e o que acontece? Se falar que tem festa no seu apartamento, surgem pessoas do nada, quando você vê tem gente pacas num local pequeno. As paredes são de madeira e como tal não abafam o som, dá pra ouvir de longe e lá reside uma senhora americana que toma conta dos apartamentos, resultado: Vem polícia para acabar com a festa porque a senhora precisa dormir! Não posso dizer nas outras, mas nesta temporada, tivemos pessoas suspensas de trabalho porque tiveram festa em seu apartamento, tivemos proibições como: permitir americanos dentro dos apartamentos, a desculpa foi que se houvesse furto, seria mais dificil saber quem era o culpado, e tivemos também demissões... mas por outros motivos. Foi uma temporada tensa, no final houve até abaixo-assinado contra as regras consideradas absurdas e gente indo embora mais cedo. As festas aconteceram, tenho muitas fotos para mostrar, mas acho válido comentar também o que houve de negativo.

Mais um detalhe que ia esquecendo... os apartamentos são fiscalizados, 1 vez por mês, outra reclamação freqüente que tínhamos de lá. Uma senhora ia verificar todos os apartamentos, entrava em todos os cômodos e fazia anotações em sua planilha depois, e se o seu apartamento fosse considerado inadequado, recebia um e-mail informativo da Mariana sobre o assunto. Convenhamos, isso me irritava profundamente... mas estava determinado lá naqueles contratos que assinamos no ônibus no primeiro dia. Como contestar? (Viu a importância de pedir para ler todos os documentos antes?)


Enfim, acabou a temporada, fiz amigos, fizemos festas, no geral, curtimos muito, bateu a saudade e ficou a pergunta, voltar ou não? Isso é algo que estou a pensar ainda...

Agora chega né, post gigante! Nem aguento mais escrever... qualquer dúvida, deixa no comment que eu respondo!

Fui-me!

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