Aprendi hoje de forma bem cruel que não importa o que façamos, mesmo sendo médico, bombeiro ou uma pessoa comum, não existe essa história de 'salvar vidas'. Os melhores médicos possuem o dom de adiar a morte, peraí, eu disse dom? Desculpe-me, eu quis dizer a habilidade, pois até onde eu acredito, não deveria ser considerado um 'dom' quando prolongamos o sofrimento alheio.
Hoje eu cuidei de filhotes de cachorro que estavam na pior, 2 eu já encontrei mortos e 2 eu tentei 'salvar', dentre estes 1 morreu tão rápido que nem deu para eu perceber o que estava fazendo, mas o outro, ou melhor, a outra, eu insisti a mim mesma que não deixaria morrer, (quem sou eu para prometer tal coisa), mas dei o meu melhor, cuidei como se fosse um bebê mesmo, porém ela estava tão hipotérmica que eu a coloquei junto ao meu corpo para aquecer, e assim dormimos. Ela amanheceu bem melhor, estava emitindo sons, erguendo a cabeça, comendo e tendo força nas patinhas, coisas que não fazia antes quando parecia já ter perdido a vida (devia ter reparado nisso), só que eu alguns momentos eu me assustava, quando ela ia evacuar ficava totalmente dura, com a boca aberta e sem movimentos, parecendo um animal empalhado, mas logo após terminar ficava toda molenga, agitada. Depois de 24 horas acreditei que tivesse passado o perigo, afinal ela tinha melhorado muito, (ou pelo menos assim parecia), então testei se a mãe iria rejeitá-la, mas não rejeitou, coloquei-a no ninho e fui ao mercado. Quando voltei, fui logo vê-la e percebi que ela havia ficado paradinha novamente, quando a retirei do ninho estava bem geladinha, mas se movia fracamente, juntei-a ao corpo novamente, e almocei com ela colado ao peito, quando estava terminando ela se mexeu tanto que a embalei com as mãos, ela soltou um grunhidinho baixo e se enrijeceu, no mesmo instante começou a evacuar, porém quando terminou ela soltou um chorinho mais alto e amoleceu de vez, eu levei alguns segundo pra perceber que estava segurando um filhote morto, e naquele momento eu percebi que todas as vezes que ela havia ficado parada deveria estar querendo terminar com a dor e eu adiei isso por não aceitar que ela morresse. Ela fez eu me lembrar tanto da minha Lady, a quem eu também tive a frieza de adiar a morte aplicando-lhe insulina mesmo quando já estava enxergando a luz do paraíso.
Brincar de comandar o destino alheio não é legal, e se torna pior quando não se está preparado para o resultado final negativo. Há quem se apegue nas estatísticas positivas, que acredita mesmo ter sido responsável por aquele resultado, mas eu não sou assim, eu creio que gostamos de interferir nas coisas que estão além do nosso limite de ação e compreensão, e se de alguma forma aquela vida no final foi salva, sua presença era apenas uma das partes infinitas necessárias. Se eu não acreditasse nisso, com tudo o que aconteceu com a Lady e hoje, eu deveria estar me afogando em culpa pela morte e não pelo sofrimento.
"A hora é incerta, mas a morte é certa!"
quinta-feira, 3 de junho de 2010
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